terça-feira, 8 de agosto de 2023

Médico explica como socorrer pessoas com lesões na coluna, após caso em academia


O motorista de aplicativo Regilânio da Silva Inácio, de 42 anos, que sofreu uma grave lesão na coluna ao ser atingido por um aparelho de agachamento numa academia (veja o vídeo abaixo) de Juazeiro do Norte (CE), na última sexta-feira (4), está consciente e tem quadro estável após passar por uma cirurgia de 4 horas de duração no fim de semana, em que foram colocados pinos e parafusos para redução da fratura, com objetivo de fazer o realinhamento ósseo e descompressão da medula. Segundo a família, o motorista sente os braços, mas não recuperou até agora os movimentos das pernas. 

Em nota, o Hospital Santo Antônio, da cidade de Barbalha (CE), onde Regilânio foi operado, confirmou que ele deve ficar paraplégico. “Sobre a lesão grave na coluna, o paciente tem menos de 1% de chance de voltar a andar”, diz a nota. 

A lesão do motorista de aplicativo é considerada gravíssima, segundo o médico neurocirurgião especialista em procedimentos minimamente invasivos da coluna vertebral, Felipe Mendes. E ele pode ter outras consequências além de não conseguir mais andar.

“Além de ter o comprometimento de movimentar as pernas, existe a possibilidade muito grande de também ter sido afetada a capacidade do controle vesical, o controle de fazer xixi e de fazer cocô. São funções que podem ser perdidas junto com esse tipo de lesão”, explica o neurocirurgião. Neste caso, Regilânio precisaria usar uma sonda para a urina, lavagem para conseguir evacuar ou utilizar medicamentos e supositórios.

No entanto, a informação de que a vítima está mexendo os braços afasta a possibilidade de perda total dos movimentos abaixo do pescoço. Apenas a região abaixo da cintura deve ser afetada. 

“Não existe o risco de ele ficar tetraplégico porque o nível da lesão, situada entre a transição da coluna torácica e lombar, já é uma região mais baixa e os nervos que saem da medula, que são responsáveis pelo controle da movimentação dos braços e das mãos, estão preservados. Dessa forma ele vai poder movimentar os braços, vai poder movimentar as mãos”, afirma.

Em nota, a academia 220 FIT disse que o caso foi um acidente e que o aparelho, comprado há menos de 2 meses, se encontrava em perfeito estado de funcionamento.

Lesões na coluna vertebral são comuns e a maioria tem cura
Segundo o médico Felipe Mendes, as lesões da coluna vertebral que se situam na transição entre a coluna torácica e a coluna lombar são muito comuns, “principalmente quando há acidentes que envolvem a alta energia, como quedas de altura, acidentes de trânsito, de motocicleta, de carro e quando há uma queda sobre a pessoa de objetos muito pesados, como foi o caso em questão”. 

No entanto, a grande maioria dos casos tem recuperação. “Por sorte, em grande parte das vezes as lesões acabam sendo um pouco mais simples, menos complexas, com a possibilidade de afetar menos os movimentos e infelizmente existem os casos de lesões mais complexas e muito graves, como foi o caso em questão, em que houve um acometimento afetando a possibilidade de movimentação das pernas e a sensibilidade abaixo do nível da lesão”.

Formas de evitar lesões na coluna 

O neurocirurgião acredita que a melhor forma de se proteger desse tipo de lesão na coluna é criar mecanismos para prevenir possíveis acidentes. “No ambiente do trânsito, evitar falar ao telefone ao dirigir, utilizar o cinto de segurança e respeitar os limites de velocidade, além de não fazer uso de bebidas alcoólicas ao volante. No ambiente de trabalho, é importante utilizar os equipamentos de proteção individual. E nas férias e viagens, evitar se expor a possibilidades de riscos, como ficar na beirada de encostas e tomar cuidado com cachoeiras. Dessa forma, é possível reduzir bastante a possibilidade de acidentes”.

Como socorrer uma pessoa com lesão na coluna
Quando uma pessoa lesiona a coluna, o tipo de socorro também pode influenciar na recuperação, segundo Felipe Mendes. Na hora do acidente, muitos frequentadores da academia correram para ajudar o aluno ferido, mas algumas atitudes podem até atrapalhar mais do que ajudar. 

“A primeira etapa é identificar se onde a pessoa se encontra é uma área ainda de risco, em que ela precisa ser retirada de forma mais imediata, ou não, caso ela esteja em um ambiente relativamente seguro, deve ser mantida onde está, evitar ser manipulada, solicitar ajuda especializada, o Samu, por exemplo, da forma mais rápida possível e aguardar a chegada do socorro para que seja feito o atendimento inicial. Havendo a possibilidade ou suspeita de um traumatismo na coluna, essa pessoa deve ser encaminhada o mais rápido possível a um serviço de urgência especializado”.

Vaquinha

Familiares e amigos de Regilânio da Silva Inácio lançaram uma vaquinha para ajudar a pagar equipamentos, uma cadeira de rodas e remédios necessários para o tratamento dele. O objetivo era arrecadar R$ 35 mil, mas nesta segunda-feira (7) o valor já havia ultrapassado R$ 42 mil.

(O Tempo) 

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