Pedro Souza/Atlético/Divulgação |
(Superesportes)
O Atlético passou a exibir no uniforme de jogo a marca da Hapvida, na mira da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID-19, conduzida pelo Senado Federal para analisar a conduta do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acerca da pandemia. A empresa, uma das maiores operadoras de planos de saúde do Brasil, é acusada de pressionar médicos a prescrever remédios sem eficácia comprovada contra o coronavírus. A logo esteve presente na camisa alvinegra pela primeira vez nessa quarta-feira, no empate com a Chapecoense.
Em 15 de outubro de 2020, o Atlético anunciou o acordo de patrocínio válido por dois anos com a Premium Saúde . Em novembro, a empresa foi comprada pela Hapvida Participações e Investimentos por R$ 150 milhões. O negócio foi aprovado em julho deste ano pela Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e publicado no Diário Oficial da União (DOU).
Mesmo comprada pela Hapvida, a Premium Saúde continuou tendo a marca estampada no uniforme de jogo do Atlético e nos backdrops (estrutura que exibe os nomes dos patrocinadores e fica posicionada atrás dos entrevistados durante coletivas) ao longo dos últimos meses.
Na "estreia" da Hapvida na camisa atleticana, o time empatou por 2 a 2 com a Chape. O jogo foi disputado na Arena Condá, em Chapecó, e valeu pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro.
A marca da empresa cearense passou a ser exibida justamente no lugar da Premium Saúde num espaço nobre da camisa alvinegra: entre o escudo do Atlético e o símbolo da Le Coq Sportif, fornecedora de material esportivo do clube. Nos backdrops , nada mudou por enquanto.
A substituição da Premium Saúde pela Hapvida ocorreu dias após a empresa passar a ser alvo de investigações sobre a defesa do chamado "kit COVID". Nessa quarta, o jornal O Globo publicou que, em julho de 2020, o superintendente nacional da empresa participou de reunião no Ministério da Saúde e emitiu declarações favoráveis a remédios ineficazes contra a doença.
O Superesportes procurou o Atlético e a Hapvida. Por meio do departamento de comunicação, o clube disse que "não vai entrar nessas questões": "Não vamos entrar nessas discussões políticas e de outros segmentos. Não nos diz respeito. O que importa para a gente é o futebol".
Questionado sobre o momento da troca da marca da Premium Saúde pela Hapvida, o Atlético informou que se trata de uma decisão do patrocinador. "A Hapvida é uma das maiores empresas brasileiras do segmento, muito grande, que está entrando muito fortemente no mercado mineiro", completou o clube.
A Hapvida também foi buscada pela reportagem. O primeiro contato com a empresa ocorreu na manhã desta quinta. O Superesportes fez questionamentos acerca do patrocínio ao Atlético e, também, sobre as questões relacionadas ao kit COVID. Até o momento da publicação deste texto, porém, não houve resposta.
Apesar disso, a operadora emitiu comunicado ao mercado admitindo que, no início da pandemia, recomendava a prescrição de remédios como a hidroxicloroquina. Segundo a entidade médica, os receituários com o medicamento foram diminuindo de forma "constante e acentuada". A Hapvida assegura que, neste momento, não receita o composto aos pacientes - por causa, justamente, da inexistência de evidências científicas.
"No passado, havia um entendimento de que a hidroxicloroquina poderia trazer benefícios aos pacientes. No melhor intuito de oferecer todas as possibilidades aos nossos beneficiários, houve uma adesão relevante da nossa rede, que nunca correspondeu à maioria das prescrições. Nas ocasiões em que o médico acreditava que a hidroxicloroquina poderia ter eficácia, sua definição ocorria sempre durante consulta, de comum acordo entre médico e paciente, que assinava termo de consentimento específico em cada caso. Ainda assim, há meses não se observa mais a prescrição dessa medicação nas nossas unidades", lê-se em trecho do texto.
Na mira da CPI
No fim de setembro, a Hapvida foi citada por Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent Senior, durante depoimento na CPI da COVID-19. A partir daí, a parceira do Atlético passou a ser tema de reportagens em que médicos relatam terem sido pressionados pela empresa a prescrever medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus, como a hidroxicloroquina e a ivermectina.
Em um vídeo de julho de 2020, o superintendente nacional da Hapvida, o médico cirurgião Anderson Nascimento, defende o uso do coquetel de medicamentos com base no que chamou de 'impressão clínica'. A gravação foi feita durante um evento virtual com a participação de executivos de vários planos de saúde e da secretária de Gestão e Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como "Capitã Cloroquina".
À época, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia constatado e divulgado que a hidroxicloroquina não reduzia a mortalidade e as taxas de internação de pessoas infectadas pelo coronavírus. Mesmo assim, uma campanha impulsionada pelo presidente Jair Bolsonaro fez com que esse e outros medicamentos fossem utilizados sem nenhuma comprovação científica.
Outros casos
Recentemente, outras empresas associadas ao Atlético foram alvos de investigações. No início de 2020, o clube decidiu não renovar a parceria com o Azeite Royal, iniciada no ano anterior. À época, reportagem publicada pela Agência Sportlight revelou que Eduardo Giraldes, dono da empresa no Brasil, era investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) acusado de integrar uma quadrilha que atuou na falsificação e clonagem de cartões de crédito.
Em 2019, o Atlético pôs fim a um contrato que durava mais de um ano com a Universidade Brasil. Dono da empresa, José Fernando Pinto da Costa foi preso durante a operação Vagatomia, que investiga venda de vagas no curso de medicina e outras fraudes. Ainda naquele ano, o empresário conseguiu um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas segue afastado do cargo de reitor.
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