Argentino transforma Chile e vira esperança contra freguesia para Brasil
Jorge Sampaoli elevou nível da seleção chilena e combate "bloqueio" contra o Brasil; última vitória ocorreu em 2000 pelas Eliminatórias
Vencer o Brasil no futebol não é fácil, ainda mais
para o Chile. Como se sofressem um bloqueio ao encarar o rival
sul-americano, os chilenos têm nos brasileiros os maiores algozes dos
últimos anos. Por isso, a partida desta terça-feira
entre as duas seleções, em Toronto, a partir das 23h (de Brasília), é
encarada com grande ansiedade pelo técnico Jorge Sampaoli.
Credenciado pelo bom trabalho na Universidad do Chile,
o argentino assumiu o cargo ao final de 2012 e pôs o Chile nos eixos. O
retrospecto de 10 vitórias em 14 partidas sob seu comando dão esperanças
de uma boa campanha na Copa de 2014.Com a vaga conquistada nas
Eliminatórias, Sampaoli não quis perder tempo: desafiou e venceu a
Inglaterra em Wembley na última sexta-feira e vai encarar a campeã
mundial Espanha em março. Mas é o Brasil quem mais impõe medo.
“É uma partida muito mais complexa. Não somente pelos
nomes, mas a equipe é muito competitiva. A defesa com David Luiz e
Thiago Silva dá muito trabalho aos atacantes. Luiz Gustavo e Paulinho
marcam e aparecem muito bem. Eles têm um corpo coletivo. Somado a isso,
Neymar, Bernard, Willian têm velocidade quando recuperam a bola. Temos
que ter em porcentagem muita alta para ganhar”, afirmou.
Chile com Sampaoli |
Venceu 10 de 14 partidas |
Marcou 34 gols |
Tem 78,6% de aproveitamento |
Classificou-se para a Copa do Mundo |
Mais do que a parte técnica e atual, Sampaoli tem que
trabalhar psicologicamente o time para a partida. Nas últimas duas Copas
do Mundo que disputou, em 1998 e 2010, o Chile completou primeiras
fases consistentes, mas desabou ao enfrentar o Brasil nas oitavas de
final com eliminações categóricas por 4 a 1 e 3 a 0. O mesmo aconteceu
na Copa América de 2007.
Historicamente a vantagem brasileira no confronto direto
é abissal. Em 67 duelos, os brasileiros venceram 47, empataram 13 e
perderam apenas sete. A última em 2000, nas Eliminatórias para 2002 em
Santiago. Robinho, que começará no banco nesta terça-feira, e Pelé
castigaram oito vezes os chilenos cada um e são os maiores artilheiros
do duelo.
Diante do tal freguesia, o empate por 2 a 2 em amistoso
de abril em Belo Horizonte, quando Jorge Sampaoli já era o técnico, é
motivo de festa para os chilenos. Só que na ocasião as duas equipes
atuaram apenas com jogadores de suas ligas nacionais, o que
desconfigurou principalmente o Brasil.
“Oxalá (possamos fazer uma partida como aquela). Mas
aquela era uma seleção local e muitos dos brasileiros estão jogando nas
melhores ligas do mundo. Naquela noite o Chile jogou uma grande partida e
merecia ganhar. Hoje vamos jogar com a melhor equipe do mundo”,
relativizou.
Temos que ter uma porcentagem muita alta para ganhar
Jorge Sampaoli
sobre amistoso contra Brasil
Independente do resultado desta noite, o técnico tem
conseguido desenvolver um trabalho consistente no Chile em um estilo que
lembra muito o de Marcelo Bielsa, comandante na Copa de 2010 e
reverenciado até hoje. Inclusive, Sampaoli tem o conterrâneo como grande
exemplo na carreira.
Com o semblante sério e compenetrado, o técnico concede
entrevistas no mesmo tom independente da pergunta. Não chega a olhar
para o chão em algumas respostas como seu mentor, mas parece concentrado
em explicar seu ponto de vista e faz isso de forma clara e concisa, sem
fugir de questões.
Fora do campo, voltou a colocar ordem na concentração
chilena. Assim como Bielsa, restringe ao máximo o acesso aos jogadores
por parte de jornalistas e fãs. Treinos geralmente são fechados e
entrevistas seguem uma agenda oficial. É difícil ver jogadores
circulando nos corredores de hotéis e há cuidados para que não se
repitam incidentes de indisciplina que tiraram a tranquilidade chilena
em 2007 e 2011.
“Mudou muito desde que ele chegou. Agora é mais fechado,
os jogadores geralmente só falam depois das partidas”, afirmou o
jornalista Aldo Schiappacasse, da Rádio Cooperativa. Controle que tem
mais a ver com o estilo de Sampaoli do que com o trauma dos problemas
anteriores. “É mais um estilo de Bielsa e Sampaoli. Gostam de ter o
jogador por perto, de controlar tudo”, disse Sergio Pinto, da TV
Nacional do Chile.
No trabalho do dia a dia, o perfeccionismo marca
Sampaoli. Depois do 2 a 0 contra a Inglaterra, o técnico rejeita
qualquer afirmação de que o Chile está no ápice. Sampaoli quer sempre
mais. E não abre a mão de treinar o time ao seu estilo mesmo quando
enfrenta o time que mais castigou o país nos últimos anos. Contra o
Brasil, manterá uma equipe aberta com o trio de atacantes formado por
Aléxis Sanchez, Vargas e Beausejour.
“Nunca falo que estamos no nosso melhor. Sempre podemos
jogar melhor, ter mais aproximação, profundidade. Me parece que a equipe
precisa melhorar a pressão inicial para não ceder o protagonismo”,
disse.
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